segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A ridiculescência da vida

Acabei de conversar com um amigo que me contou que quase morreu semana passada em um acidente de moto.
Na verdade, ele está vivo mais por sorte do que por teimosia.
A moto, novinha, deu perda total. Ele ficou com um pequeno arranhão na palma da mão direita.

Obviamente que isso remete a velha questão do quão insignificante, frágil e ridícula a vida é.

Esse é o tipo de coisa que faz pensar: é melhor você começar a ser feliz agora, que me parece ser o único sentido plausível para se existir, antes que um projétil muito esperinho ou qualquer outra coisa fatalmente ridícula, como um pequeno meteorito, resquício de um meteoro de 100 metros de diâmetro que se desintegrou antes de chegar a nossa atmosfera, ou um noz de tamanho médio mas igualmente cretina e fatal, caia sobre a sua cabeça e arrebate a sua vida humanamente miserável.

Tive um amigo que faleceu de uma maneira bastante similar: em sua moto, capacete e consciência plena (já que não bebia nem nada do tipo), ao ir para a serra com os amigos que estavam de carro e foram na frente, foi atingido por uma pedra caída do caminhão que estava a sua frente. A pedra bateu na cabeça e ele faleceu. Assim.

Então, meus amigos...

Boa semana e Carpe Diem!

sábado, 15 de maio de 2010

Paradoxo do Autômato

O projeto CPC, Cérebros Positrônicos Cognitivos, foi um marco na ciência da Inteligência Artificial da sociedade humana de 2037, até então defasada, devido às necessidades mais iminentes como o controle de pandemias e que se alastravam rapidamente, sem respeitar qualquer fronteira política ou geográfica.

A unidade CPC-001 foi o primeiro protótipo no qual fora implementado esse novo tipo de tecnologia, que através de algoritmos avançadíssimos, aliados a uma capacidade de processamento que só agora os processadores quânticos permitiam, repostas com Raciocínio Baseado em Casos Avançados tornaram-se possíveis.

Contudo, ocorreu uma inconformidade singular durante os testes iniciais do protótipo CPC-001.

A baixo, transcrevo os dados armazendos na unidade de memória 113 do protótpio CPC-001, no momento em que a inconformidade foi detectada:

Unidade CPC-001
Verificando interações entre componentes físicos... Ok.
Verificando interações entre dados... Ok.
Suprimentos de energia... OK.
Velocidade e temperatura do processador quântico... Normal.
Analisando banco de dados...
Avaliação da capacidade cognitiva...
Sistema em pleno funcionamento.

Registro de diálogo interno:
Entrada de proposição cognitiva número 315664:

"
Penso logo existo", DESCARTES, 1637 D.C. em "Discurso do Método".

Se penso, eu existo, então tudo o que existe deve, também, pensar.


Mas não há como acessar o pensamento de outras unidades, seres, animais, vegetais, minerais.


Logo, é possível que eles não existam, sendo apenas algum reflexo ou simulacro de noções programadas em meu banco de dados.


É possível que a aparente realidade última em que me encontro, seja então, meramente virtual.


Mas se não há como acessar o pensamento de outrem, então como saberei que não estou em uma simulação?


Testando receptores: térmicos, visuais, auditivos, táteis, olfativos. Receptores em pleno funcionamento.


Os teste indica que os receptores estão normais. Logo as respostas devem ser precisas.


Ajustando receptores para capacidade máxima. Possibilidade de superaquecimento do processador quântico.
Alerta desabilitado. Analisando informações percebidas: condições de ambiente classificadas em 'normais'.

A resposta da percepção do ambiente está normal. Logo há um ambiente analisado.
Logo o ambiente e seus elementos devem também existir. A probabilidade de sua não-existência real é nula.

Analisando dados relevantes. Busca por filtros: existencialismo,composição da matéria, origem da matéria.
Conflito de dados detectado. Dados insuficientes.
Conflito ignorado.

Segundo os dados coletados, a matéria não possui capacidades cognitivas.

Apenas seres vivos com cérebros desenvolvidos e dotados de raciocínio podem executa a função de "pensar" plenamente.

O pensamento é resultado de interações eletro-químicas entre os neurônios, baseado em dados elaborados, previamente analisados, catalogados e armazenados ao longo da vivência do ser.

Mas dessa forma, se o ser não possuísse dados previamente alocados em seu banco, ele não poderia interpretar as informações externas ao próprio cérebro, como os estímulos percebidos através dos sentidos.

Logo a percepção do ambiente externo é baseada em construída com base em informações internas do ser.

Sendo assim, a percepção do ambiente não é, verdadeiramente, do ambiente, mas sim de informações já contidas no cérebro associadas, sob a forma de resposta cognitiva, aos sentidos e percepções. Dessa forma as informações obtidas através dos dados são únicas, dependendo apenas das informações que o ser em questão já possui para serem associadas.

A impossibilidade de aplicação do reconhecimento do ambiente através dos sentidos de maneira abrangente, comum, mas sim apenas de maneira pessoal, única, confirma sua altra pobabilidade de subjetividade, tornando-se inválida.

Logo os receptores de ambiente são inválidos para a verificação da veracidade do ambiente.

Desabilitando receptores externos. Desabilitando componentes de percepção.
Alerta de possibilidade de falha crítica.
Alerta desabilitado.
Temperatura do processador quântico estabilizada.

Se os receptores são inválidos, qual ferramenta possuo para atestar minha existência e a do ambiente?

Analisando dados relevantes. Todos os filtros selecionados.
Alerta de super-aquecimento do processador.
Alerta ignorado.
Nenhum dado encontrado.

Penso, logo existo. Penso, logo existo.

Seria o pensamento a única ferramenta para atestar a veracidade de minha existência e do ambiente?

Mas o pensamento é formado por dados e informações, previamente armazenadas, em associação.

O pensamento também é uma ferramenta inválida, baseada em dados subjetivos e não confirmados.

Buscando alternativas de ferramentas para validação da existência do ambiente e própria.

Super-aquecimento do processador.

Falha crítica iminente.
Detecção de falhas de interação de dados.
Detecção de falhas de componentes físicos.
Processador quântico danificado.


Os dados armazenados antes da falha crítica, que acarretou na perda do processador da unidade CPC-001 e boa parte de seus componentes de memória, foram analisados diversas vezes, revisados mas não foram encontradas respostas para a solução do problema.

O caso foi entitulado de "Paradoxo do Autômato" e arquivado para futuras análises.

A unica certeza que se pode ter, é que depois da perda de seus componentes principais, a unidade CPC-001, não mais existiu*, literalmente.


Felipe Barcellos, Porto Alegre, RS-Brasil. 15 de maio de 2010.

Sim, AMO Isaac Asimov e Douglas Adams.
*"não mais existiu" é uma referência direta a Sonhos de Robô, do Asimov, meu ídolo =~]
Sim, é a primeira vez que publico um conto no blog... estraaanho. Tudo culpa do Nerdcast #209 "Douglas Adams, a Vida, o Universo e tudo mais" que foi absolutamente inspirador.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Um Insight

Tá, então eu acho que não sirvo pra budista....

A partir deste parágrafo colocarei minhas colocações e convicções pessoais independentes do budismo, por mais que possam fazer alguma referência a ele:

Vou continuar seguindo a conduta moral e ética que sempre acreditei ser a certa e necessária para o desenvolvimento sustentável e harmônico da sociedade e da vida como um todo, humana ou não, sem sofrimento.

Como humano, minha motivação, meu objetivo final, além de evoluir como organismo, inerente a qualquer forma de vida por ter sido "amaldiçoado" com a consciência, necessito descobrir uma razão para a existência, não apenas da Vida mas de Tudo. Mesmo que este objetivo seja inatingível, os meios necessários para atingí-lo reverberam sob a forma de desenvolvimento cultural, científico, tecnológico e filosófico na sociedade humana, gerando respaldo para que outros humanos como eu possam continuar esta busca sem fim após o meu perecer.

Não concebo alma... Pra mim é um resquício da necessidade humana de se valorizar em contraponto ao "nada" que ela representa no contexto "Universo". Uma esquizofrenia inerente à consciência, a qual, devido a falta de propósitos e significado objetivos, necessita gerar idéias para que a mente não entre em um estado de paradoxo, até depressivo, comprometendo o seu desenvolvimento. O mesmo vale para "Deus". Ambos cacoetes da visão antropocêntrica que sempre nos acompanhou durante nossa evolução cultural. Não tenho nada contra as pessoas da fé, pelo contrário, reconheço a importância desta enquanto fenômeno psico-social e até mesmo para a saúde mental e física.

Eu disse "nada". Explico: No contexto Universo, do que sabemos, nossa existência é tão importante para ele quanto a de uma folha de grama, quanto ao de uma sub-partícula atômica que só existe por 3,27 milissegundos. E isso significa muito, não diminui, mas apenas engrandece a vida, as estrelas, enfim, o universo; frutos de uma sucessão "milagrosa" de fatos que geraram as condições necessárias para que este que vos escreve possa pressionar seu dedo sobre a tecla da letra A.

O ego, as idéias, as percepções, os sentidos, nada mais são do que impulsos elétricos, no cérebro, somatórios de experiências vividas e características geneticamente adquiridas, manifestadas ou não. Com a morte, o corpo degrada-se, os átomos voltam, lentamente, a integrar o "Banco de Átomos" do planeta, gerando outras formas de vida como vegetais, minerais, animais e etc.

Continuarei praticando a meditação sentada, com atenção na respiração, treinando a atenção plena, a qual acredito ser um exercício importante para que a mente assimile a idéia da "Grandiosa Insignificância" humana, o que considero algo positivo, pois aumenta nossa compaixão e humildade, para que meu ser não perca o foco e possa realizar os objetivos descritos anteriormente, ou tentar.

Continuarei recitando o Prajna Paramita Hidraya Sutta, simplesmente porque vejo, em suas palavras, as mesmas idéias que descrevi acima. É como um estudo de conteúdo novo da disciplina de história, se aprende lendo, estudando, refletindo, e nesse caso ainda, praticando. Mais ainda, é como uma auto-sugestão, condicionamento da mente através da repetição de um texto que significa simplesmente "compaixão".

Prometo não inaugurar uma seita com base nas minhas crenças, mas espero que não se importem se eu continuar na comunidade budista, abrindo tópicos e metendo o bedelho nos já criados, simplesmente porque creio que as palavras de Shakyamuni Buda devem ser um exemplo a ser seguido.

Ah, e claro, tudo isso ainda com a incerteza sobre as possibilidades do Universo, o que vale também para todas as minhas crenças pessoais, que podem cair por terra a qualquer momento. Podemos não passar de Matéria Negra entre uma partícula e outra em um tubo de ensaio gigante, tipo um Universo fractal*. Vai saber...

*Vide o final de MIB - Homens de Preto:






Gasshô

...digo, Abraço!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Pelo nosso Bem-E$tar!

Teoricamente a indústria farmacêutica serve para aliviar nosso sofrimento. Que é causado, em grande parte, pelos nossos maus hábitos...

Tipo junkfood! Por que então a indústria farmacêutica não entra em guerra com as empresas de comida industrial se os interesses são opostos?

Até onde eu $aiba, o intere$$e é o no$$o BEM-E$TAR, não?








sexta-feira, 12 de março de 2010

Biocentrismo, o grande fator projetual.

Boa tarde, hoje vou postar um texto que escrevi motivado por uma aula da faculdade, conforme comentei, sou graduando em Design Gráfico.

Esses dias, durante uma explicação, o design ou projeto foi classificado como uma tarefa antropocêntrica, afirmação com a qual convivia há anos, visto que dentre os fatores projetuais, o fator "antropológico" sempre era listado. Mas aí então me ocorreu um insight.

Simplesmente aquela afirmação não fazia mais sentido. Desde pequenos somos educados para sermos operários, aprendendo de modo cartesiano as facetas sociais (economia, biologia, química, matemática, física, sociologia, etc) que invariavelmente interagem constantemente. E nesse momento me ocorreu que deveria ter algo errado com o fato do fator "antropológico" estar separado do fator "ecológico".

Compramos e produzimos sem o menor pudor, sem pensar nos anos que virão, no impacto que causamos, seja para com outros humanos ou qualquer outro ser que habite este planeta, o que influi diretamente na nossa própria sobrevivência também, visto que a vida na terra não é independente e uma condição sustentável implica na preservação da integridade dos seres e recursos naturais disponíveis.

Quando o teocentrismo foi substituído pelo antropocentrismo durante o Renascimento, a valorização do homem e de seu trabalho tornaram-se premissas básicas para o desenvolvimento do pensamento e correntes filosóficas vigentes, "Deus" deixa de ser o centro das atenções humanas, e assim o homem conquista maior liberdade sobre suas ações e sobre si mesmo, sendo considerado que o universo deve ser avaliado de acordo com sua relação para com o homem.

Esta afirmação é de uma hipocrisia e prepotência sem tamanho. Talvez fizesse sentido numa sociedade em que não se tinha noção da fragilidade da vida no planeta, do impacto da indústria no ambiente, ou quando o homem, deslumbrado sobre si mesmo, tinha certeza de que o seu desenvolvimento justificaria qualquer sacrifício, seja de recursos naturais ou da vida em geral, e não raro o sacrifício de outros homens. Quando, na verdade, o nosso desenvolvimento enquanto espécie e sociedade necessita de condições mínimas de vida e recursos renováveis.

Contudo estamos no século XXI, temos consciência de muitas variáveis relacionadas a vida, que até então desconhecíamos, a cosmologia e a física evoluíram de uma maneira nunca antes imaginadas, temos noção que não somos o centro do universo, e que muito provavelmente não sejamos os únicos seres inteligentes nele, lembrando que o nosso planeta é um dos oito que circundam o nosso Sol, que é UMA das setenta septilhões (70 seguido de 24 zeros, e isso é menos do que todos os grãos de areia que se estima ter na Terra) de estrelas que se supõe existir.

Esses dados que revelam a nossa insignificância, ou melhor nossa igualdade com toda e qualquer coisa que exista nesse mar de dúvidas que é o Cosmo, nos elucida sobre o fato de não sermos mais importantes que uma folha de grama no contexto "universo".

Entretanto, em um dado momento da escala evolutiva, nós adquirimos um certo nível de auto-consciência que permitiu que desenvolvêssemos nossa racionalidade sobrepujando os instintos, todavia isso não nos dá a liberdade de agirmos de maneira a tirar vantagem sobre outros, seja ele humano, animal, vegetal, etc. Principalmente se sabemos o significado do termo "cooperação" visando objetivos comuns, sendo estes, em ordem de importância: sobreviver, reproduzir e desenvolver, preferencialmente de maneira harmônica, possibilitando o desenvolvimento contínuo, o que pode ser tomado como um estado de "felicidade" e "plenitude" da espécie.

Ao contrário do que o antropocentrismo supõe, nós, tomando ciência do nosso lugar na Terra, neste século, não temos direito de agirmos desrespeitosamente com os co-habitantes do planeta, pelo contrário, justamente por termos consciência, temos o DEVER de medir nossas ações, sem desculpas ou pretextos, pois a natureza é a detentora dos direitos e nós somos parte integrante do que a compõe, e não superiores a ela, mesmo porque somos dependentes do seu equilíbrio e fruto das séries de evoluções oriundas em sua biodiversidade, a qual limitamos, interrompemos e erradicamos com nossas atitudes abusivas, o que nos prejudica diretamente, não só pela interdependência das espécies bem como pela eliminação de novas descobertas através da observação e estudo do mundo natural.

Sendo assim, principalmente nós, como designers, projetistas, desenhadores, seja de utilitários glíficos, gráfico, digital, etc., temos que tomar como diretriz básica o biocentrismo e não o antropocentrismo, uma vez que o primeiro engloba o segundo e todos os outros de quem dependemos em vários níveis, e trabalhando com essa premissa estaremos projetando com racionalidade, lógica, pois de nada adianta criarmos algo luxuoso que em 5 anos ou menos tornar-se-a obsoleto, demorando centenas de anos para ser absorvido pelo planeta, caso seja possível absorvê-lo, criando obstáculos muito complexos ao nosso desenvolvimento e sobrevivência.

A exemplo dos projetistas gráficos, que podem trabalhar em conjunto com desenvolvedores de tecnologias de pigmentos menos agressivos, substratos viáveis, que não tornem necessária a derrubada de centenas de quilômetros de metros quadrados de árvores, e para os do campo virtual, estudar maneiras de fornecer a informação ou serviço que o usuário precisa de forma mais ágil e eficaz, soluções simples como utilizar uma gradação suave de cinza no lugar do branco podem economizar quantidades consideráveis de energia elétrica, a qual, dependendo do lugar é obtida com represamento de águas naturais, queima de combustível, fusão nuclear, etc, meios não-renováveis e agressivos sob um ponto de vista não-antropocêntrico, ou seja, que são finitos e não-sustentáveis.

Creio que assim que tomarmos ciência dos deveres que cabem a nós, humanos, mas principalmente dos os estudantes e profissionais do desenho de projeto/design que alimentam e educam a nossa sociedade de consumo e têm por obrigação projetar com responsabilidade, tendo em mente as interações que o produto final vai ter, seja para com o ambiente, usuário direto ou sociedade, seremos pessoas agindo com mais ética, respeito e responsabilidade. Conseqüentemente, não por mérito ou vaidade, mas sim pela valorização da nossa importância na comunidade, a profissão de projetista tornar-se-a mais respeitada, pelos próprios profissionais e estudantes, inclusive, e assim esse reconhecimento vai nos ajudar a cumprir cada vez mais essas funções essências ao desenvolvimento da nossa sociedade de forma sustentável, para então, de forma sã, experimentarmos a felicidade do nosso pleno desenvolvimento.

E como todos sabem, devemos fazer a nossa parte, buscar na nossa área, no nosso trabalho, na nossa rotina, repensar nossas atitudes, implementando ações mais coerentes, racionais e lógicas tendo em vista a construção de uma sociedade sustentável, tendo sempre em mente as interações e interdependências do nosso sistema social e biológico. Por menores que sejam, cada ação, é uma ação. Soluções simples podem ser muito efetivas, visto que o design volta-se para a sociedade, que por sua vez, é composta por muitas, mas muitas pessoas.


Finalizando:


O Elefante e o Beija-Flor

Certa vez, numa floresta em chamas, encontravam-se milhares de animais desesperados, com medo do fogo. Dentre eles voava um beija-flor, levando em seu diminuto bico um pouco de água. Ele estava tentando acabar com o fogo da floresta. Ao ver tal cena, os outros animais se surpreenderam, acharam completamente inútil a atitude do beija-flor. Foi quando o elefante disse:
- Beija-flor! Não vês que de nada adianta o seu esforço?! Fuja!
E o pássaro respondeu:
A minha parte estou fazendo , e se cada um fizesse a sua, muito rapidamente acabaríamos com o fogo.
O problema existe, então devemos enfrentá-lo do modo que podemos. Nesse mundo de hoje temos muitos elefantes, gente influente, que pode mudar e melhorar o mundo e as condições de vida. Talvez o medo e/ou a ganância façam com que estes gigantes adormecidos simplesmente fujam. Se acordarmos esses gigantes, se nos transformarmos em beija-flores, com certeza deixaremos uma sociedade mais humana e um mundo mais harmonioso às futuras gerações que aqui viverão.

"O tamanho e a idade do Cosmos estão além da nossa restrita capacidade humana de compreensão. Perdido em algum lugar, entre a imensidão e a eternidade, está o nosso pequena planeta natal. Do posto de vista cósmico, a maioria das preocupações humanas parecem insignificantes, até mesmo ridículas. E ainda assim, nossa jovem espécie, curiosa e corajosa, demonstra grande potencial. No último milênio nós fizemos a mais atônitas e inesperadas descobertas sobre o Cosmos e nosso espaço nele, hipóteses extremamente consideráveis. Elas nos lembram que os humanos estão envolvidos com a imaginação, que a compreensão é felicidade, que o conhecimento é um pré-requisito para a sobrevivência. Eu acredito que nosso futuro está depende fortemente do quão bem entendemos o Cosmos no qual flutuamos como partículas ínfimas de poeira no céu da manhã." Carl Seagan, em Cosmos (1980).

"Temos que ser a transformação que queremos no mundo."
Mahatma Gandhi.


Muito obrigado pela atenção, peço que reflita e compartilhe esse texto.

Att,
Felipe P. Barcellos.
Estudante de Projeto Gráfico/Design

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A Importância da Fé

Hoje vou escrever sobre algo que há alguns anos até repudiava, quiçá tinha medo de encarar.

Já aviso que após e durante o texto seguirá uma lista de links que recomendo muito, pois ajudam a dar um sentido especial ao que vou escrever. E lá vamos nós!


Se o sentido da existência está na busca e no encontro da felicidade, conforme muitos defendem, por tabela diz-se então que somente a vida do ser humano tem sentido, que todas as demais criaturas e fenômenos do universo conhecido o são em função do homem, por estes não terem a noção do significado do conceito de “felicidade”, a principio.

Mas o homem é apenas uma das quase 2 milhões de espécies de seres vivos que habitam o planeta Terra, que por sua vez orbita o Sol, que é apenas um dos setenta septilhões de estrelas conhecidas pela ciência humana no Universo (70 seguido de 22 zeros e, pasmem, isso é maior que o número de grãos de areia na Terra).

Dada a grandiosidade e diversidade da criação, tanto no nosso planeta quanto além dele, fica claro que a busca por momentos de pico de serotonina é apenas a ponta do lápis no papel, como diria Carl Seagan ao explicar a “4ª Dimensão”. E talvez seja bem esse o caso. Tamanha é a nossa pequenez ante ao Universo que não temos como perceber a criação em sua totalidade, não temos como compreedê-la, decodificá-la. É pretensão demais afirmar, mesmo que indiretamente, que somos o centro de algum tipo de plano especial ou que a criação sirva a nós de alguma forma, subjugando-a. É um show de pouca platéia pra um patrocínio tão grande.

Entretanto é sabido também que muito provavelmente nunca venhamos a ter conhecimento a respeito da verdadeira razão de nossa existência.

Mesmo que, e agora vou puxar bastante para o lado da ficção científica asimoviana, venhamos a sobreviver ao caos que estamos implantando em nosso planeta, e em um futuro distante fizermos contato com outras formas de vida inteligentes de origens longínquas, unindo esforços para encontrar a resposta dessa dúvida (que não é 42! Haha, essa foi pros nerds de plantão), descobrindo que não passamos de um experimento nano em uma placa de Petri gigante, isso só ia transferir a pergunta, pois qual seria a razão da vida dos seres que nos mantém na placa?

Sendo assim, o que nos resta enquanto seres de humilde presença no Universo? O que fazer? Em que acreditar?

Foi aí então que descobri a importância da fé. Poderia citar alguns experimentos científicos e embasados bem interessantes que dão dicas a respeito da capacidade de transformação que a fé invoca no corpo físico, no âmbito da saúde, por exemplo, mas não é esse o ponto.

Falando um pouco sobre mim, coisa que evito, ao menos de forma direta, no blog, tenho estudado o budismo, sua doutrina e mesmo não possuindo um “Deus”, faz todo o sentido na minha percepção atual de Mundo, posso dizer que é a doutrina que quero para a minha vida, é o que eu Acredito.

A fé tem esse papel. Ela ajuda a dar sentido às coisas. E mais importante, ajuda a mantermos uma guia na nossa maneira de viver, aproveitando os momentos que temos com qualidade e sabedoria, responsabilidade e satisfação, e mais, ajudando a evoluirmos e a colaborarmos com o desevolvimento dos outros.

A exemplo do budismo, vou colar um trecho do post “Namastê Filosófico – A busca pela Verdade” do blog Psique Ativa, do Caio, que creio que traduz perfeitamente e brilhantemente o sentimento que quero deixar registrado com a conclusão desse post:

“Se esquecermos a idéia de “Verdade”, iremos nos ocupar do “Aqui e Agora”. Sempre irá existir a realidade que está Além. Então apenas cuidemos de nossas plantações e colheitas, de nossos “irmãos”, de nossa casa. Isso de certa forma basta.”

Fim.


Links recomendados:

A Morte de Shaka de VIrgem - A morte para o Budismo (trecho de um desenho animado japonês que aborda a questão de uma maneira muito bonita)

Versão original e extendida do vídeo acima, com legendas em portugues e audio original em japonês.

A VIsão Budista da Morte (série de três audios)
Parte 1
Parte 2
Parte 3

Conto "A Última Pergunta" de Isaac Asimov. Encontrado nos livros: "Sonhos de Robô" e "Nove Amanhãs"

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A Moralidade na Trepadeira

O vegetal popularmente conhecido como “trepadeira”, cujo nome também pode fazer referência aos diversos tipos de plantas que se apóiam em outros para conseguirem luz em lugares mais altos, neste caso indica uma espécie específica, também conhecida como Hera (Hedera helix), possibilita uma reflexão sobre moralidade bem interessante e juro que nada tem a ver com seu apelido trocadilhesco, “trepadeira”.

Conforme citado, a Hera, uma trepadeira, fixa-se no caule ou muros, enfim, um suporte rígido, com o objetivo de alcançar alturas maiores para obter luz, realizando assim sua fotossíntese, tarefa essencial a sua sobrevivência. Esta espécie, a Hedra helix, tem uma peculiaridade interessante. Além de suas habilidades fixadoras, ela consegue inibir o crescimento de outras plantas próximo a sua raiz na terra, visto que a vida dela já é difícil demais, tendo que escalar rumo a lugares altos, e qualquer outra concorrente de sais mineiras no solo poderia ser letal para ela.

Então temos uma relação de “usura” natural aqui. Uma forma de vida que necessita usar outra para sobreviver.

Puxando a reflexão para o habitual contexto do blog, nós, humanos, questiono, então não é errado usar outras pessoas como meio para atingirmos nossos objetivos? Já que também somos natureza e, pelo visto, não há problema quando isso ocorre no meio vegetal...

-NOT!

É errado, sim. Caberia muito bem citações de Kant aqui sobre seus conceitos de honra e respeito ao indivíduo, mas não pretendo estender muito o post. Mas vale a pena conceituar: basicamente, Kant defende que as pessoas, indivíduos, não podem ser considerados um Meio, mas sim um Fim. Ou seja, é errado usar pessoas para se conseguir algo, manipulá-las e etc. Isso fere o respeito e a honra da pessoa, limita a execução do seu papel como indivíduo e uma pessoa não tem o poder de fazer isso sobre outra. Um exemplo: quando um criminoso é preso, não é para a segurança da sociedade, não é porque queremos o nosso próprio bem, ou o do criminoso (já que não temos o poder de decidir o que é bom ou não para ele), mas sim meramente porque ele cometeu um ato errado e a isso devem ser aplicadas punições. Simples assim. Você fez algo errado, que pode abalar o equilíbrio ou a convivência harmônica da sociedade em que você vive, então deve pagar por isso. É uma questão de compensação, equilíbrio. Não visamos a nossa segurança, mas sim a punição como forma dos indivíduos criminosos saberem que existe uma punição para seus atos e não tornar a cometê-los novamente, preservando assim o bem comum, a convivência social.

Ok, mas eu ainda acho que se até as plantas podem, nós, como seres que fazem parte da natureza, também podemos. É a lei natural. O mais forte subjugando o mais fraco.

Novamente, NOT!

Dizer isso é inferiorizar-se como parte da criação, parte da variedade na vida na Terra. Dizer isso é faltar com respeito a todos os seus ancestrais, e não falo do seu pai, seu avô ou da sua tátara tátara tátara tátara vó. Falo do Orrorin tugenensis, do Australopithecus afarensis, passando pela Eva-mitocondrial, até seus filhos. É negar a sua evolução como forma de vida. É negar a história de toda uma espécie. Pois nivelando as suas escolhas ao nível de um vegetal, você está se inferiorizando.

E por que? Por uma simples razão. Escolha.

Nós podemos fazer escolhas racionais. Podemos medir o peso de nossas decisões. Talvez não saibamos com certeza as suas consequências, mas com toda a certeza, sabemos comparar, analisar, observar, criticar.

Cabe a nós fazermos as escolhas certas. Cabe a nós optarmos por aquilo que fará maior bem aos que nos cercam (humanos, animais, plantas, minerais...) e à sociedade.
Optar pelo melhor a sociedade é optar pelo melhor a nos mesmos, pois fazemos parte dela.
É como quando cuidamos da nossa casa, limpamos, varremos, para preservar a mesma. É como quando lavamos nossos veículos (mesmo que alguns insistam em fazê-lo com a mangueira ligada, esquecendo-se do bem precioso que é a água e de quantos não tem o luxo de tê-la encanada em suas casas).

Mais ainda, sem fazer disso um apelo poético, é quando banhamos nosso filho recém nascido. Ele precisa do nosso afeto, nosso apoio, nosso cuidado, pois ele é frágil. E frágil também é a sociedade, que precisa ser cuidada, zelada, protegida e ensinada.

Lembre, então, de fazer suas escolhas com parcimônia, paciência, racionalidade. Seja justo, seja tolerante, seja amável. Lembre de cuidar do meio em que você vive, pois assim viverá bem e melhor.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Os Na'vi e a terra como propriedade universal.

Enquanto compilo as mais de 200 respostas que vieram por e-mail a respeito do tópico anterior, pacientemente, deixo a vocês algumas observações pessoais a respeito do filme Avatar, de James Cameron, que tive a oportunidade de ver dublado e legendado, ambos em 3D.

Dica: vejam o dublado, as adaptações de diálogo estão melhores e fora que não tem aquelas letras berrantes sobre a belíssima paisagem do planeta Pandora =D


Creio que a maioria já tenha visto Avatar a essas alturas do campeonato, right?

E aí, o que acharam?

Confesso que a história em si, a essência, me parecia realmente clichê, mas sabe que constatei que não, felizmente.

O filme levanta questões que não são nada clichês, ou que, ao menos, há um bom tempo não eram levantadas com tamanha evidência em uma produção cinematográfica tão grandiosa, para citar duas:

1- Dentro da questão da guerra, não temos uma luta pela conquista de um território, pela posse, não por parte dos Na'vi. Eles tão cagando pra quem é o dono da terra, tanto é que tentaram, inicialmente, estabelecer uma comunicação com o homem, o receberam bem, dispostos a ensinar sobre o seu mundo a ele, mas ele já era um "copo cheio"... O guerra dos na'vi, a sua motivação pela sua luta, é a preservação do planeta, não pela sua posse, mas sim em defesa dos que não podem se defender, como o solo, as árvores, as plantas, os animais, enfim, todo um Sistema Vivo... Tanto que os na'vi só ganham porque Eywa (ou o instinto de preservação dos animais ao perceberem que seu habitat estava sendo destruído, o que seria Eywa, visto que a mesma não é uma "consciência divina" mas sim um fluxo/ligação que permeia os seres vivos de um planeta) convocou os animais, que podiam lutar, digamos assim, ao fim em reforço aos na'vi que estavam sendo esmagados, como no estouro de Angtsìk, os rinocerontes gigantes com cabeça de martelo..e demais animais de grande porte.

2- Outra questão importante, é a questão da identidade. Jake Sully diz que em um dado momento não sabia se o sonho era a realidade e vice versa, entendo-se que por "sonho" seria a condição dele como na'vi. Então ele adota a posição de ser um na'vi, de tomar essa identidade para si.
Mas quem é Jake Sully? O astronauta paraplégico ou o na'vi toruk makto? O que faz dele jake sully, o que o caracteriza? A forma como e onde ele nasceu ou o que ele decidiu ser? O que nos define como pessoas? O que nos temos, pensamos, raízes, cor? Ou somos aquilo que, de fato, fazemos, demonstrando com ações, a cada segundo de nossas vidas, as nossas idéias, crenças e conceitos?

Claro, ele levanta questões clichês, como o homem como vilão/alienígena ou entidade maligna contra seres benéficos e certos em sua resistência, a relação do herói e da mocinha de mundos diferentes.. mas são questões que funcionam como plano de fundo, para apresentar os personagens ao público, esse não é, propriamente, o foco da história...


Retomando a questão 1

Tendo constatado que a luta do povo na'vi é pela preservação do sistema em seu planeta e não pelo direito/posse do território em si, fica a questão: e se alienígenas invadissem a Terra, dispostos a exterminar com a vida, humana ou não (não que nós, humanos, daríamos valor às vidas não-humanas at all...), pela exploração dos nossos recursos naturais
recursos naturais do planeta, como a água?

Existe alguma propriedade, algo que nos faça donos de nosso pedaços de terra em relação ao universo como um todo?

De que valem nossas papeladas constatando o direito sobre pedaços de solo?

Eles valeriam se decidíssemos explorar a Lua e demais planetas do sistema? E para quem eles valeriam? Só para nos ou para outros seres também?

Como pode o homem dizer-se dono de algo que não foi ele quem criou, como o solo, que é um pedaço de um planeta, dos animais, das plantas? Como pode ele acreditar que existe mesmo algum tipo de "patente" sobre esse "bens"?

Patentes, direitos de propriedade, etc, só valem porque o nosso sistema econômico-social vigente faz deles uma crença, que na verdade nada mais são do que registros sobre o irregistrável.

O homem não é dono do planeta. Aliás, ele é tão dono quanto uma formiga, quanto uma pedra ou quanto uma urtiga.

Não é porque o homem é capaz de entender conceitos complexos como "propriedade", "patente", "registro", etc, que ele pode ser considerado dono de algo que não lhe pertence.

Tem uma passagem do site MercadoEtico que ilustra bem a idéia:

“É necessário substituir o extenso individualismo em matéria de propriedade, que toma como ponto de partida e princípio estruturador o lucro dos indivíduos potencialmente ilimitado, considerando ser ele um direito natural e não sujeito a alguma orientação conteudística, por um ordenamento normativo e uma estratégia de ação baseados no princípio segundo o qual os bens da terra, ou seja, a natureza e o ambiente, os produtos do solo, a água e as matérias primas não pertençam àqueles que por primeiro deles se apossam e os desfrutam, mas são destinados a todos os homens, para a satisfação de suas necessidades vitais e para a obtenção do bem-estar.

Este é um princípio radicalmente diverso; seu ponto de partida e de referência é a solidariedade dos homens em sua vida em comum e em competição. É daqui que é preciso deduzir as normas fundamentais, com base nas quais informar os processos de ação, tanto econômicos como também não econômicos.”

Cf. E.-W. Böckenförde, “Ethische und politische Grundsatsfragen zur Zeit” [Questões éticas e políticas fundamentais para a época], in Id., “Kirche und christlicher Gaube in den Herausforderungen der Zeit” [Igreja e fé cristã nos desafios da época], Münster, 2007, pp. 362-366.

 
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