quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Uma reflexão sobre o Método dentro do ensino do design.

Alguns leitores podem não saber, mas sou estudante de Design Gráfico, me formo ano que vem. Nessa jornada, algumas reflexões tornaram-se inevitáveis, seja sobre o ensino acadêmico ou sobre as funções e objetivos do próprio design/projeto gráfico.

Dentro desse feeling, posto aqui então algumas palavras sobre o ensino de metodologias dentro do curso de design:



Uma reflexão sobre o Método dentro do ensino do design.

Existe uma mística que envolve o método, as etapas projetuais sugeridas por algum autor, no ensino do design, que ao invés de instigar os alunos a realizarem projetos obtendo soluções adequadas e inovadoras, acabam por limitar a qualidade dos resultados.

No meio acadêmico são ensinados métodos dos mais variados autores, adequados aos mais diversos tipos de projetos.

Contudo, eles são ensinados como uma fórmula mágica e infalível. Seus passos são tidos como premissas de um radicalismo quase fundamentalista, que não pode ser questionado ou alterado, devendo ser seguidos como um dogma.

Dessa forma, muitos alunos que não tem o ímpeto acadêmico da análise profunda e levantamento de dados com embasamento, acabam realizando projetos medíocres, seguindo cegamente etapas projetuais sem saber aplicar o conhecimento obtido através delas, em seus projetos.

Quando podemos observar colegas que realizam seus projetos de maneira a ficar clara a sua intimidade com os métodos, propondo adaptações devido às particularidades de seus projetos, sabendo aplicar os conhecimentos de cada etapa nos seus estudos e alternativas, obtendo resultados brilhantes, professores e colegas (incluindo eu) ficam maravilhados com a qualidade do trabalho, que acabam se caracterizando como exceções, quando na verdade a exceção deveria ser o trabalho medíocre, sem profundidade e sem consistência.

Creio que a forma de ensino dos métodos deveria ser repensada, uma vez que é uma triste verdade que a maioria dos estudantes não tem o ímpeto empírico do design no processo de seus projetos, oriundos de um sistema de ensino médio e fundamental que castra a criatividade dos alunos.

É obvio também que muitos dos resultados brilhantes dos projetos se devem ao esforço pessoal dos seus projetistas, que por questões adversas alguns alunos não apresentam, mas aquém disso, acredito ser de uma importância ímpar a revisão a respeito do ensino das metodologias, de forma que os alunos compreendam o seu funcionamento interno, as possibilidades que eles podem revelar, dominando a sua aplicação nos projetos, encontrando através das “limitações” das etapas os caminhos para uma solução criativa, estruturada e embasada no conhecimento técnico do design, resultado de uma aplicação correta dos resultados das analises e levantamento de dados.

Felipe P. B., Porto Alegre-RS. 16 de dezembro de 2009.

5 comentários:

  1. Lipe, tu conhece meu trabalho muito bem e deve saber que sou um entusiasta da metodologia de projeto. Tanto que escrevi um artigo desenvolvendo uma metodologia de projeto. Muito humilde, com toda certeza, porém com um propósito muito interessante: desmistificar essa coisa que se chama metodologia.

    Os pontos nos quais falham o ensino da metodologia , na minha opinião,são estes: a constatação que as metodologias projetuais nada mais são que guias de processo criativo que ajudam o projetista a organizar seu pensamento, priorizando a objetivação na produção de resultados para um determinado projeto; o esclarecimento da função das etapas das metodologias.

    Inumeras vezes ouvi dizerem (até eu mesmo pensei dessa forma) que haviam etapas que "não servem para nada". Contudo, porque existiriam se não tivessem um propósito?

    A etapa de Análise é a que sempre sofre nesse caso. O que os alunos não entendem é que a etapa de análise é uma das partes mais importantes do projeto! Análise de concorrência, de outros produtos, costumam ajudar os projetistas no que diz respeito à produção de um determinado material. Através da pesquisa, o designer pode ter noção de como aquilo que desenha é feito, como a concorrência tem o feito, se existem maneiras ambientalmente sustentéveis de ser feito, enfim... Análise é busca de referência!

    Me entristesse muito esses alunos que passam dois meses numa cadeira de projeto na faculdade fazendo "análise" e simplesmente, na hora de efetivamente desenhar, tem uma diarréia cerebral de tudo que foi pesquisado.

    Resumidamente, acredito que,ao ensino, faltem os porquês.

    Um grande abraço e muito obrigado por ser essa pessoa inquietante e desafiadora.

    Te adoro!

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  2. Ô Lipe, eu era bolsista de pesquisa de um projeto que tratava sobre metodologia de desenvolvimento de produtos, e é um dos assuntos que eu mais curto ^^

    Uma das coisas que eu aprendi com esse projeto é que, como o Zaffar mesmo disse, a metodologia é como um guia que deve ser seguido, principalmente quando a gente está começando, pra pegar prática até chegarmos numa etapa em que temos mais autonomia e mais segurança.

    Acontece que no começo algumas (pra não dizer todas) etapas parecem mesmo inúteis, e isso eu acho que talvez seja problema do ensino sim. Ou não, acho que logo que tu entra na faculdade tu pensa que é só sair desenhando e que tu é muito criativo e zaz, e demora até cair a ficha e descobrir que metodologia não é só um monte de etapas inúteis que tu tem que seguir pra ganhar nota.

    Tem também outra coisa, algumas etapas são inúteis dependendo do projeto que tu está fazendo, mas se tu deixar a bangu pra cada um decidir se uma análise ou outra é útil antes mesmo de testar, daí não dá certo. A pessoa tem que adquirir uma certa maturidade pra poder escolher com mais segurança quais técnicas ela quer seguir pra determinado projeto.

    Acho que ficou meio confuso...mas o que eu queria dizer é que cada projeto é um projeto, dependendo da dificuldade dele e do produto que tem que ser desenvolvido tu escolhe uma metodologia ou outra, e ainda pode variar nas técnicas e na microestrutura e mais um monte de coisas.

    A metodologia não é uma limitação, é que são tantas as variáveis de projeto que se tu não tiver um guia, acaba esquecendo de mais da metade delas, ou termina levando o triplo do tempo pra fazer. É uma maneira de se organizar.

    Sei lá se era isso que era pra comentar, mas acho que sim, se não for a gente conversa outra hora (ao vivo é mais fácil)

    :D

    Sexta to em casa já!
    Beijos

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  3. Humm agora to na duvida se me fiz entender no post auhhua

    Não digo que algumas etapas sejam inúteis, longe disso!

    O que questiono é a forma como o "método" é ensinado aos alunos, muito superficialmente, sem embasamento, é passado como algo magico a ser seguido e que funciona (mesmo que nao funcione já que o aluno não sabe como, por que e quando fazer...principalmente no inicio do curso).

    Com uma transmissão de informações mais completas e embasadas sobre a teoria do método em si os alunos ficam aptos a executarem esses passos, compreendendo a importância de cada etapa e por consequência, obviamente, obtendo um resultado com maior qualidade em seus projetos, aplicando os connhecimentos adquiridos em cada etapa, na sua geração de alternativas.

    Somente com o ensino adequado do método o aluno pode desenvolver uma relação mais íntima com o método em sí, ponderando melhor a sua aplicação de acordo com o seu projeto.

    Comento que podemos observar que são raros os casos em que no tcc percebe-se o bom uso do método (vide tcc's da Sah, nathy, zafffari, priscila, deivid, michele, etc). São exceção, quando na verdade o mau uso é que deveria ser! Afinal estamos pagando pra aprender! Claro que vai muito de cada um, do interesse...mas se a maioria não está aplicando o método com aproveitamento máximo, algum problema tem... um problema mais profundo do que a vontade e interesse de cada um, ou seja, no ensino.

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  4. Eu vejo o ensino atual de métodos como algo "aprende fazendo ou não aprende" em muitos casos os alunos acabam aprendendo, mas ainda possui uma porcentagem de estudantes que não compreende a necessidade de do uso inteligente sobre a metodologia e acabam considerando ela rígida e desnecessária.

    Eu acredito que essa forma de ensino ela até consiga atingir alguns resultados vide os exemplos citados no outro comentário, para que o método fosse realmente aprendido seria necessário uma alteração da postura dos professores de propor mecanismos e técnicas pedagógicas diferentes e PRINCIPALMENTE dos alunos que precisariam de maturidade para agir de forma positiva a essas mudanças.

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  5. Metendo o bedelho aqui. Não fui convidado mas me intrometo.
    No artigo do Flávio V. Cauduro em PensandoDesign sobre o tema ele cita outro autor que diz "Fazer da teoria o mestre da prática é seguramente uma forma de repressão." Se aplica ao caso: métodos são meios, não fins.

    Mas fica aqui a minha dúvida: quais exatamente vocês acham que deveriam ser as mudanças práticas no ensino do método de forma a beneficiar os estudantes? Porque a meu ver, muitas vezes, o problema está mesmo nos alunos, e não no método.

    Abraço.

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