sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Razão existencial, uma questão de consciência.

Quando se percebe que o “eu” pessoal, o “eu” individual, é, de fato, uma grande ilusão, passa-se a perceber o “em volta” de uma forma diferente, com mais respeito.

Ao notar que, na verdade, tudo está – de alguma forma – interligado, novos valores são agregados ao nosso repertorio moral. Pois, o mesmo sentimento que impede alguém de pisar em uma formiga, propositalmente, é o que impede alguém de “lucrar” o troco da mercearia, que a moça do caixa deu a mais, e é o mesmo sentimento que impediria que um deputado, se o tivesse, tirasse “por fora” 30 mil reais mensais de forma ilícita, diretamente do bolso dos contribuintes.

Nossos gostos, traços psicológicos, físicos, são tão originais, únicos e importantes para o universo quanto o padrão de manchas na carapaça de um besouro ou na pele de uma salamandra. E por incrível que o pareça, as machas do besouro e da salamandra são importantes, de maneira igual para o universo, em relação às nossas individualidades.

Trocando em miúdos, negar ou atenuar, que seja, o nosso individualismo exacerbado, é fundamental para o bom desenvolvimento da sociedade. Esses tempos me chamaram de romântico, no sentido de que esses conceitos são fantasias, irreais, entretanto, digo que o romântico, na verdade, é que acredita que é possível que nossa sociedade se desenvolva e evolua sem revermos nossos pontos de vista, sem achar que é necessário mudar alguma coisa ou fazer algo com esse fim. Achar que nossa sociedade pode perdurar mesmo com essa atual crise de valores e moral é que é romântico.

Sim, eu acredito que podemos mudar, basta querer, basta pensar. Basta lutarmos contra a alienação e o conformismo que o sistema nos força a tomar como rédeas em nossas vidas. Basta acordarmos.

Uma vez um amigo, o André, me disse umas palavras que, após refletir sobre, mudaram drasticamente a minha visão sobre o mundo e as pessoas, em um momento de total descrença para com a sociedade:
- Só há solução enquanto as pessoas existirem.

E é verdade. Acreditar que as pessoas, em geral, são egoístas e fazem tudo por interesse próprio, é uma artimanha de auto-piedade, um consolo, pois assim a culpa por estar ciente dos problemas e continuar inerte frente a eles é consideravelmente menor. Assim isentamo-nos da responsabilidade.

Somos responsáveis por aqueles que cativamos e uma vez que compreendemos que nossa existência está diretamente conectada a todo um universo, no sentido de que cada sub-parte de um sistema tem a sua importância, não podemos ignorar a responsabilidade, os deveres e os compromissos que firmamos por fazermos parte deste universo. É uma questão de consciência tentar arrumar o que percebemos estar errado. Não de consciência, no sentido de “consciência tranqüila”, pois isto também seria egoísta e não seria verdadeiramente uma razão, mas sim no sentido de que, de fato, entendemos que somos parte de um todo, e que como tal, temos nossa parcela de dever para com ele, para assim, contribuirmos para a evolução dele, em nome daqueles que vierem depois de nós, sejam eles pessoas, insetos, mamíferos, rochas, o que for, pois aí está a beleza da Vida.

Quem já viu o filme “Pequena Miss Sunshine” pode rever (ou quem não viu, ver) e perceber o filme com outros olhos. Note que a van é amarela e as pessoas nela, por mais que tenham seus defeitos e particularidades, estão lá, empurrando-a para fazê-la cruzar o horizonte, objetivando realizar os sonhos de uma garotinha. E se a van for o Sol? E se o ato de empurrá-la for o esforço que devemos fazer para sairmos da inércia mental? E se a garotinha e seu sonho for o nosso sonho, nossa esperança num futuro melhor?

Encontre seus sonhos, TENHA sonhos. São eles que movem o mundo e melhor ainda se seu sonho for viver em um mundo melhor.

Parafraseando o Vic: se este corpo que nos conduz destina-se a breve experiência, façamos dela uma experiência cada vez melhor!

3 comentários:

  1. Esse post me lembrou a música Epitáfio... "Devia ter feito o que eu queria fazer" "Devia ter aceitado as pessoas como elas são" poxa, algo tão simples, não?

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  2. Isso fez me lembrar cada coisa que passou por mim e nao dei valor, cada momento que eu deveria ter vivido mais, eu estou cm problemas na vida e esse post me fez refletir muito... meus parabens e obrigado me ajudou muito....

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  3. Bem interessante esse post. Mas o ser humano é egoísta mesmo... Não uso isso como desculpa para conformidade, pelo contrário, concordo com todas as afirmações descritas acima em prol da atitude de mudança e me esforço para isso. Para falar a verdade esse tema: "A natureza egoísta do ser humano" é um tabu pra mim... E ninguém até hoje conseguiu me provar o contrário... Eu mesmo ajudo bastante gente no que posso mas ainda assim me considero egoísta ao fazer isso... Se um dia eu conseguisse entender isso, ou mesmo aceitar, sei lá... Acho que poderia viver mais plenamente.

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